De cores e flores assim quero os dias...
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Identidade Indígena
Em memória ao índio Chico Sólon
O texto é o testemunho das lágrimas de uma indígena vendedora de bananas,
sua avó a refugiada Maria de Lourdes de Souza,
filha do índio Chico Sólon, d
esaparecido das terras indígenas paraibanas por volta de 1920,
quando se instalava ali, a neocolonização da agricultura algodoeira causando a fuga de famílias indígenas, oprimidas pela escravidão moderna.
Nosso ancestral dizia: Temos vida longa!.
Mas caio da vida e da morte.
E range o armamento contra nós.
Mas enquanto eu tiver o coração acesso.
Não morre a indígena em mim.
E nem tão pouco o compromisso que assumi.
Perante os mortos.
De caminhar com minha gente passo a passo.
E firme, em direção ao sol.
Sou uma agulha que ferve no meio do palheiro.
Carrego o peso da família espoliada Desacreditada, humilhada.
Sem forma , sem brilho, sem fama.
Mas não sou eu só.
Não somos dez, cem ou mil.
Que brilharemos no palco da História.
Seremos milhões unidos como cardume.
E não precisaremos mais sair pelo mundo.
Embebedados pelo sufoco do massacre.
A chorar e derramar preciosas lágrimas.
Por quem não nos tem respeito.
A migração nos bate à porta.
As contradições nos envolvem.
As carências nos encaram.
Como se batessem na nossa cara a toda hora.
Mas a consciência se levanta a cada murro.
E nos tornamos secos como o agreste.
Mas não perdemos o amor.
Porque temos o coração pulsando.
Jorrando sangue pelos quatro cantos do universo.
Eu viverei 200, 500 ou 700 anos.
E contarei minhas dores pra ti.
Oh!!! Identidade.
E entre uma contada e outra.
Morderei tua cabeça.
Como quem procura a fonte da tua força.
Da tua juventude.
O poder da tua gente.
O poder do tempo que já passou.
Mas que vamos recuperar.
E tomaremos de assalto moral As casas, os templos, os palácios.
E os transformaremos em aldeias do amor.
Em olhares de ternura.
Como são os teus, brilhantes, acalentante identidade.
E transformaremos os sexos indígenas.
Em órgãos produtores de lindos bebês guerreiros do futuro.
E não passaremos mais fome.
Fome de alma, fome de terra, fome de mata,Fome de História.
E não nos suicidaremos.
A cada século, a cada era, a cada minuto.
E nós, indígenas de todo o planeta.
Só sentiremos a fome natural.
E o sumo de nossa ancestralidade.
Nos alimentará para sempre.
E não existirão mais úlceras, anemias, tuberculoses, Desnutrição.
Que irão nos arrebatar.
Porque seremos mais fortes que todas a células cancerígenas juntas.
De toda a existência humana.
E os nossos corações?
Nós não precisaremos catá-los aos pedaços mais ao chão!
E pisaremos a cada cerimônia nossa.
Mais firmes.
E os nossos neurônios serão tão poderosos.
Quanto nossas lendas indígenas.
Que nunca mais tremeremos diante das armas.
E das palavras e olhares dos que “chegaram e não foram”.
Seremos nós, doces, puros, amantes, gente e normal!
E te direi identidade: Eu te amo!
E nos recusaremos a morrer.
A sofrer a cada gesto, a cada dor física, moral e espiritual.
Nós somos o primeiro mundo!
Aí queremos viver pra lutar.
E encontro força em ti , amada identidade!
Encontro sangue novo pra suportar esse fardo Nojento, arrogante, cruel...
E enquanto somos dóceis, meigos.
Somos petulantes e prepotentes.
Diante do poder mundial.
Diante do aparato bélico.
Diante das bombas nucleares.
Nós, povos indígenas.
Queremos brilhar no cenário da História Resgatar nossa memória.
E ver os frutos de nosso país, sendo divididoRadicalmente.
Entre milhares de aldeados e “desplazados”Como nós.
Eliane PotiguaraTextos do livro “METADE CARA, METADE MÁSCARA”
Global editora
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