De cores e flores assim quero os dias...

sábado, 27 de junho de 2009

Canto para a morte de Michael Jackson
*Oswaldo Montenegro
Hoje morreu Peter Pan
Não se sabe do que foi
Vitiligo ou pressa vã
De voltar ao que já foi
Tinha voz de uma criança
Com o sexo de um senhor
Era Deus dançando a dança
De um diabo sedutor
Dizem que não tinha cor
Transparente como a luz
Só queria ser sem dor
Como um Cristo sem a cruz
Peter Pan morreu de moço
Que de velho morre o Gancho
Um jantar antes do almoço
Fez o quadro e eu não desmancho
Tanta gente quer crescer
Mas a fome diz que não
Peter Pan quis inverter
Como sabem, foi em vão
Pinga a chuva arroxeada
De outro príncipe Xamã
Uma antena angustiada
Busca a antena quase irmã
Peter Pan tava famoso
Fez o mundo de quintal
Era triste, desgostoso
Como um Buda no Natal
Era solto e deslocado
Como o barco sem a vela
Coração enclausurado
Era casa sem janela
Se era rei ou se era triste
Eu não sei, sabe ninguém
Ninguém sabe o que existe
Entre o mal, o nada e o bem
Se gostava de criança
E criança é o que ele era
Inventou uma mudança
E mudança a vida gera
Ninguém sabe e todo mundo
Diz que sabe o que não sabe
Diz que o raso é que é profundo
Diz que guarda o que não cabe
Peter Pan morreu de dia
Libertado de um açoite
Que ele mesmo (quem diria)
Punha no seu ombro à noite
Tão humanos são os loucos
Tão divinos os normais
Tão agudos são os roucos
Tão sensíveis os mentais
Só nos resta a madrugada
Com promessas de manhã
Pois a ele resta nada
Acabou-se o Peter Pan
Fica só um jeito torto
Que encantava a todos nós
Michael Jackson ta morto
Está viva a sua voz
Na criança da favela
Que hoje pensa que amanhã
Vai ser nau de caravela
Como foi o Peter Pan
Alguns dizem que era virgem
Outros que era marciano
Que sofria de vertigem
Cá pra nos, ele era humano

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